19 de mai. de 2013

Sem Ar

  Fernando sorriu ao pegar uma pequena roupinha de bebê e acrescentar na pequena mala, olhou para ver se tinha tudo, conferiu cada item de que se lembrava, e então fechou a mala, colocando-a em cima de uma pequena peça, estava no closet, era pequeno, mas tinha espaço para que as roupas femininas e masculinas não se embolassem uma nas outras, seu sorriso morreu nos lábios quando ouviu gemidos torturados vindos do quarto. Correu para Lá e viu Lua se contorcer, suada, se aproximou da cama, acariciando a barriga de nove meses, era sempre assim pensou triste, deitou-se junto a ela, aconchego-a em seu peito, ela não tinha tomado o remédio, pensou transtornado. Acariciou a barriga de Lua, era difícil de acreditar que tinham chegado aos noves meses, dez meses atrás, tinha descoberto que Lua tinha tuberculose pulmonar pós-primária, foi um choque para toda a família, o tratamento corria bem, até que um mês depois que começaram, Lua descobriu que estava grávida, e então parou de tomar todos os remédios, com medo que afetasse o bebê, e por mais que ele e a família tivessem feito de tudo para que ela voltasse a tomar os remédios, nada conseguiram. 
Então a doença só foi se agravando durantes os meses, por ser pulmonar, não afeta tanto o bebê, mas Lua sentia-se mal, tossia sangue, e começou a se recusar a comer a partir do quinto mês de gestação, falando com o medico, ele disse ser normal, falta de apetite era normal em pessoas tuberculosas, ela vivia com febre e do sexto mês pra cá, andava tão fraca que nem saía da cama, só uma vez por dia com ajuda de uma cadeira de rodas, estava sempre perdendo peso, e Fernando tinha que lhe implorar para que comesse, a gravidez foi considerada de risco, e Lua teve os cuidados, que já eram muitos, triplicados. Agora ela poderia dar a luz a qualquer momento, e o risco era enorme, afinal, ela estava muito fraca, era de se admirar a gravidez ter chegado tão longe com o bebê bem, não sabiam se era menino ou menina, queriam uma surpresa, mas mesmo sem saber, Fernando tinha certeza, esse bebê era tão forte quanto à mãe, ele dormiu com esse pensamento. Acordou com uma batida no braço seguida de alguns gemidos de dor.
Lua- Nando, pelo amor de Deus acorda.
Sonolento, ele olhou para Lua.
Fernando- o que?
Lua- a bolsa estourou Nando, vai nascer.
Ele se levantou em um pulo, e meia hora depois, ambos estavam saindo de casa, com cuidado, ele carregou Lua, a tirando da cadeira de roda e colocando no banco traseiro do carro.
Fernando- tudo bem? Pode ir sozinha aqui?
Lua assentiu, fazendo uma respiração que tinha aprendido com a prima, Sophia, que já tinha tido duas lindas filhas com seu marido Micael. Fernando deu a volta no carro, colocando a mala do outro lado, e entrando no lugar do motorista, em dez minutos eles chegaram no hospital, que graças a Deus, ficava perto do prédio onde moravam. Lua foi coloca em uma maca e rapidamente levada ao centro cirúrgico.
Dr. Carlos- Fernando, você sabe que ela corre muitos riscos não é?
Carlos era padrinho de Fernando e médico da família, por isso se referia a ele com informalidade.
Fernando- você não precisa me lembrar disso, eu posso entrar com ela?
Dr. Carlos- sim, mas deixe que preparemos a sala antes, depois quando ela já estiver lá, você entra.
Fernando- obrigado.
Carlos saiu. Sophia, Micael, Mel e Chay, entraram na sala e logo avistaram Arthur, Sophia trazia nos braços uma linda menina de cabelos loiros adormecida, aparentemente tinha 3 anos, enquanto Micael segurava pela mão outra linda menina, morena com lindos olhos azuis, iguais ao da mãe, aparentava 5 anos.
Sophia- nunca deixaríamos de estar aqui em um momento como esse.
Mel- como ela esta?
Fernando- da ultima vez que falei com ela, estava nervosa e sentia muita dor.
Mel- a dor é normal, acredite.
Mel tinha um filho pequeno, de 4 anos.
Fernando- e cadê Bruno?
Chay- na casa da minha mãe.
Mica- viemos assim que você ligou, estávamos no cinema, será que vai sair tudo bem?
Sophia pisou no pé de Micael.
Sophia- cale a boca.
A menina puxou a mão do pai.
Mica- que foi amor?
Amanda- cadê a tia Lu?
Micael- ela esta ocupada, vamos comer, vem.
Ele carregou a menina para longe dali. Passados alguns minutos, Dr. Carlos voltou a sala.
Dr. Carlos- pode vim Fernando.
Ele se levantou e foi com o médico, colocou a roupa apropriada e entrou na sala de parto, com o coração na mão.
 Fernando abriu a porta da sala, entrou e foi logo para o lado de Lua, a que apesar da anestesia, continuava acordada.
Lua olhou Fernando, suada, estendeu a mão para ele, ele segurou e lhe deu um suave beijo na testa.
Fernando- eu estou aqui com você, vai ficar tudo bem.
Lua- se você tiver que escolher, entre nosso filho e eu, prometa-me que vai escolher ele.
Os médicos começaram a cesárea.
Fernando- eu não vou precisar escolher, vai da tudo certo meu amor.
Ele estava sendo otimista, muito otimista e sabia disso.
Lua respirava fundo, não sentindo nada da barriga para baixo, mas estava tonta, olhava para Fernando, que segurava sua mão com força, o amava mais que tudo, seria horrível deixa-lo.
Enquanto a cesárea prosseguia, Lua começou a passar mal, estava muito fraca, por isso, era difícil passar por uma cesariana, seu corpo não estava aguentando, apesar da anestesia, que já estava começando a passar.
 Fernando viu Lua começar a ficar fora de si.
Dr.Carlos- não deixe ela desmaiar Fernando, estamos tirando o bebê já.
  Fernando se virou para Lua desesperado.
Fernando- Lua meu amor, olha para mim, não dormi, não, fica me olhando, aperta minha mão, isso.
Ela usou todas as forças para aperta a mão dele, forçando-se a ficar de olhos abertos, logo ouviu um choro de bebê.
Dr. Carlo- é um menino, lindo menino.
 Fernando sorriu, emocionado, se virou para Lua.
Fernando- viu meu amor, é um menino lindo.
Lua fitou Fernando, e desmaiou. Uma maquina emitiu um som agudo.
Enfermeira- Dr. Uma infecção, a paciente esta muito fraca.
Dr. Carlos- vamos Lua.
Uma enfermeira chegou perto de Fernando.
Enfermeira- é melhor o senhor sair.
Fernando- eu não vou deixar ela sozinha.
Enfermeira- o seu filho esta bem, vamos limpá-lo e levá-lo para o berçário, você não quer vê-lo?
Fernando- vou ter a vida toda pra ver o meu filho, agora quero ficar com a minha mulher.
Dr. Carlos- saía Fernando, é melhor.
Nervoso Fernando saiu do quarto e foi direto para o berçário. Viu a enfermeira que estava dentro da sala, entrar com o seu filho nos braços, dar banho, e depois se virar para ele, fazendo sinal para que entrasse. Ele obedeceu, ela apontou para uma roupa na porta, ele vestiu e foi de encontro a ela.
Enfermeira- olha só o papai.
Ela passou o menino cuidadosamente para os braços de Fernando, que sorriu ao carregar o filho pela primeira vez nos braços, estava emocionado. Ficou ali uns cinco minutos, deu mamadeira ao filho e depois saiu do berçário, indo direto para a sala onde encontrou os amigos.
Sophia- e então Fernando?
Fernando- um menino, lindo e perfeito.
Chay- parabéns papai.
Eles foram abraçados por todos.
Mel- e a Lua?
Fernando- ela não reagiu bem à cesárea, ela ainda esta na sala.
Ele suspirou cansado. Uma hora se passou e então Dr. Carlos entrou novamente na sala, com uma expressão seria, que não deixava revelar nada.
Fernando- e então?
Dr. Carlos- nós fizemos de tudo, mas ela estava muito fraca por causa da doença, não havia o que fazer, a Lua faleceu Fernando.

(...5 anos depois...)


  Fernando colocou com cuidado, as rosas brancas ao lado do tumulo, onde dizia “Lua Maria Blanco Roncato, a mulher mais forte e a mãe mais amada”, sentiu-se perto das lagrimas, cinco anos depois e ainda não se acostumara a viver sem ela, uma lagrima rolou por seu rosto.
- Tudo bem papai?
  Fernando olhou para seu filho, Victor, tinha cinco anos de idade e era tão lindo quanto à mãe. Os médicos consideravam um milagre ele ter nascido perfeito , por causa das condições da gravidez da Lua, eles podiam esperar muita coisa dele, talvez se a Lua tivesse tomado os remédios durante a gravidez, ele nem teria Victor, agradeceu mentalmente a Lua.
Fernando- sim, só me emocionei um pouco, fale tchau para a mamãe, sua tia esta nos esperando.
Victor virou para o tumulo e olhou para a foto da mãe.
Victor- tchau mamãe, depois de amanhã a gente volta para troca as flores, eu te amo.
  Fernando segurou a mão de Victor, e foram direto para o carro. Victor tinha salvado Fernando depois da morte de Lua, e agora seu mundo girava em torno dele, ele era o seu ar, que Lua tirara ao morrer.

Fιm ♥
Mesmo que às vezes você se sinta sem ar,
Não importa o que aconteça,
Alguém sempre vai parecer para te salvar. ♥

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